RISCO - exposição de gravuras de Sérgio Torres

Sérgio Torres e o espelho de papel

A arte de Sérgio Torres nos fala de riscos... do risco de viver... do risco de estar vivo. Faz com que levemos à vera o significado de estar vivo, de viver a vida por inteiro, com todos seus riscos, vivendo cada um desses riscos. Riscos que enriquecem a vida, que tornam mais rico o viver. Arte e vida no limite, no ponto em que o retorno é uma impossibilidade. Riscos a deixar suas marcas no rosto, na cara... sem pena. Riscos do que somos e do que fomos na incerteza do que seremos. Riscos cortantes com que Sérgio Torres marca, rasga, risca a chapa de pvc até seu limite. No limite em que arte e vida se confundem, se tornam um único um - integrado, inteiro, isento de fraturas. Arte e vida por inteiro. Compulsivamente nos riscos dos retratos e dos retratados. Autorretratos de todos, artistas ou não, infileirados na galeria de efígies. Autorretratos a sugerir o que somos quando talvez preferíssemos não ser o que somos. Que tentam encobrir nossa verdade como se outro fôssemos, verdade oculta por outra verdade inventada.
Os riscos cortantes, incisivos de Sérgio Torres rasgam, marcam os rostos, as caras, os retratos, os autorretratos na pele-de-pvc-transformada-em-carne. Imagens de nós marcadas e refletidas no espelho de papel. No tom áspero e sombrio do papel, distante do branco luminoso; cor da pele, das entranhas expostas na superfície do papel transmutada em espelho, espelho de papel. Imagem tremeluzida do que somos mas que preferíamos não ser. Para além da superfície, para além do frívolo. Riscos que traçam sulcos, que trançam linhas, que trancafiam nossos medos e libertam nossas virtudes... ou seria o reverso??? Riscos na pele de pvc, pele para sempre marcada pelo gesto congelado. Verdade reservada, guardada, transmutada, suportável apenas no espelho de papel. Imagem refletida de nossa verdade. Uma verdade – nua e crua - que nos coloca no espelho do Foucault, que nos põe onde não estamos, que faz com que nos vejamos onde não queremos estar. A arte de Sérgio Torres nos fala de riscos... do risco de viver.


Luiz Sérgio de Oliveira
artista e professor da Universidade Federal Fluminense, Niterói

Curadoria: Ricardo Queiroz
Realização: Barracão Maravilha

Última semana: aberta das 12h ás 18h
23 de Maio - 21 de Junho 2013