O formato de divulgação de arte adotado pelas feiras de arte tem se alargado progressivamente nos anos mais recentes. Grandes feiras internacionais têm se multiplicado e atraído olhares curiosos, não somente de compradores e galeristas como também de gente faminta por novidades. Isso porque, muitas vezes provocando maior alarde que bienais, as feiras têm sido também um sítio de apresentação e discussão de tendências atuais. Todavia, devido ao seu apelo explicitamente comercial, para muitos, a feira é um lugar duvidoso, onde o valor artístico, creditado a determinada obra (ou artista), pode ser substituído por mero valor comercial.
Tendo em vista esse problema, o coletivo carioca de arte contemporânea Gomo resolveu levar esse assunto para sua nova exposição, baseada no espaço do Barracão Maravilha, no Rio de Janeiro. A mostra, que possui o irônico título Múltiplos Produtos Gomo, pode questionar com bom humor a suposta condição do objeto de arte como produto de mercado nas feiras de arte contemporânea. Os artistas perguntam se a obra de arte apresentada hoje nas grandes feiras ainda possui importância e voz ativa no debate sobre os novos rumos político-sociais e as novas idéias, sejam elas estéticas ou políticas, ou se são meramente decoração de um mundo pautado no desejo pelo lucro.
Não por acaso, a exposição será realizada em simultâneo com a celebre Feira do Lavradio (feira de antiguidades que ocorre pelos arredores do Barracão Maravilha). Uma manobra que promete estabelecer maior comunicação e proximidade com o grande público. Comunicação e proximidade já perdidos pela arte há muito tempo.
Com fluidez no trânsito entre as linguagens da arte contemporânea, o Gomo mostra uma produção diversa que vai da pintura ao site-specific, em que, por meio de produções individuais e coletivas, cada artista empresta sua imagética própria para, no fim, estender a experiência artística realizada pelo grupo. O visitante mais sensível e atento irá confrontar-se com questões referentes ao papel da arte no mundo atual e a dificuldade de se estabelecer a comunicação humana através dos herméticos códigos da arte.
Lippe Muniz